Baseado nos contos de visagens e assombrações de Belém, assim escrito pelo meu queridíssimo autor Walcir Monteiro, que publicou centenas de livros do gênero. Tenho por finalidade passar para os demais interessados e curiosos pelas fantásticas histórias contadas pelos Belenenses, que residiam na capital em épocas passadas. Literalmente as crenças, mitos e as lendas da nossa gente, vêm se formalizando desde 1972, quando foram publicadas dominicalmente em “A Província do Pará”, e depois, em 1985, quando surgiram em livros.
A vontade de preservar as lendas amazônicas, que infelizmente ocupam menos espaços na vida do povo dessa cidade, por conta do crescimento urbano, me fez ter a disposição e o imenso carinho à cultura popular regional, oferecer ao leitor um relato agradável e instigante do nosso imaginário.
Para que você entenda melhor como foram esses causos, conto aqui os costumes das pessoas daquela época.
Belém – 1972
Um bairro qualquer. A conversa seguia animada em frente a casa. Os pais dos jovens haviam saído e eles aproveitaram para reunir toda a vizinhança defronte. Cadeiras haviam sido colocadas, e os que não as conseguiram faziam de assento o muro, que, sendo baixo, para isto se prestava; outros sentavam, mesmo, no chão, e a conversa ia desde as próximas provas até a quadra junina, que já estava perto. Os diálogos se entrechocavam e, rapazes e moças, cada qual procurando chamar a atenção sobre si, falavam ora das médias altas ou baixas nesta ou naquela matéria, ora no traje a estrear nas festas caipiras de Santo Antonio, São João ou São Pedro.
De repente, Ana Maria precisa ir “lá dentro”. Sônia, que é da casa, a acompanha. E entram as duas.
Na porta, conversa continua animada.
De repente, o grito! Todos se levantam, acorrem, ficam alvoroçados. E depois vem a explicação:
- Quando ia saindo da “casinha”, vi um vulto que parecia que vinha na minha direção...
- Ora, foi impressão sua! Diz Gustavo, o mais valente da turma.
-Foi nada, não...
-Olhe, diz Paulo, o mais antigo morador do bairro, dizem que esta casa era mal-assombrada. Sabe lá se... - Deixe disto. Foi impressão de Ana, que é medrosa por natureza...
- Não! Sabe? Uma vez, lá em casa, a luz apagou sozinha. Pensei que era defeito no interruptor, mas que nada! Foi assombração mesmo!-
Por isso que a gente deve rezar sempre pelas almas penadas. Assim elas descansam em paz e não ficam fazendo visagem por aí.
- Mamãe, toda segunda-feira, vai ao cemitério da Soledade fazer a novena das almas. Tudo o que quer, ela consegue! Ela tem uma fé na Raimundinha Picanço...
- Mas olhe! Vocês já ouviram a história da Matinta Pereira do Acampamento?
- Mais esta, agora! Onde já se viu? Falar em Matinta Pereira no interior, ainda vá lá. Mas aqui em Belém...
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